🪴 O Dia em Que a Mãe Boho Declarou Independência… Com uma Taça de Vinho
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Era domingo. O tipo de domingo em que até as plantas da varanda pareciam suspirar. O incenso já se arrastava pelo ar desde o meio-dia, e no Spotify ecoava uma playlist chamada "Sol, Espírito e Saúde" — uma mistura de Bossa Nova com sons de tigelas tibetanas.
A mãe boho, essa entidade mística de túnica larga, chinelos de sisal e cabelo tipo “acordei assim (e lutei contra o vento durante cinco minutos)”, caminhava pela casa com a leveza de quem já viveu em cinco festivais alternativos e três retiros espirituais.
Com o sol a bater na cozinha de azulejos com limas secas em frascos decorativos, ela suspirou fundo, abriu a garrafeira (que na verdade era uma prateleira de madeira pintada com mandalas) e escolheu um vinho tinto biológico de uvas colhidas em noites de lua cheia.
E então, aconteceu: sentou-se no chão, pernas cruzadas em pose de semi-lótus, pegou numa taça e anunciou com solenidade:
“Hoje, não sou responsável pela nutrição de ninguém. Hoje, sou livre. Hoje, sou vinho.”
As crianças olharam com um misto de confusão e admiração — uma espécie de vénia interna à mulher que já lhes ensinou a diferença entre chakras e chás digestivos.
O mais novo, curioso e munido de perguntas existenciais, rompeu o silêncio:
— Mas mãe, isso é tipo… meditação líquida?
Ela sorriu, ergueu a taça como se brindasse aos deuses da lavanda, e respondeu:
— Exatamente. Cabernet Zen.
🧘♀️ Reflexão entre Goles
Neste dia, não houve quinoa com legumes salteados, nem pão de espelta torrado com azeite de alecrim. Houve silêncio, gargalhadas internas e a ousadia de não fazer jantar. A mãe boho não se desfez dos papéis da maternidade. Apenas decidiu que podia ser mãe… e mulher… e ser humano em pausa — tudo ao mesmo tempo, enquanto o vinho fazia amigos com a alma.
Ela pensou em escrever no blog, talvez publicar uma foto com a legenda: “Desconstruindo a culpa. Fermentando amor próprio.” Mas preferiu saborear a luz dourada da tarde e deixar a louça acumular-se como quem acumula boas decisões.
🍇 Epílogo Minimalista (com Taninos)
À noite, serviu granola em tigelas de coco reciclado e declarou:
“Alimentar corpos é importante. Mas alimentar liberdades... é essencial.”
O vinho acabou. A filosofia ficou. E aquela mãe boho seguiu sua noite com um livro sobre permacultura, uma manta felpuda e o sorriso de quem descobriu que, às vezes, basta um copo de vinho para reencontrar a própria essência.